Projeto Bombeiros Mirim inicia ano letivo como ferramenta de orientação vocacional e cidadania

Gilson Raposo, de 17 anos, Layane da Paz, de 14 anos, e Lincoln Borges, de 12 anos, moram na região central de São Luís e, apesar de não se relacionarem, têm muito em comum. Eles compõem um time de mais de 3 mil crianças e adolescentes que integram o projeto Bombeiros Mirins, organizado pelo Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão (CBMMA). Eles participaram, no último sábado (19), da solenidade de abertura do ano letivo do projeto, que desenvolve em bairros atividades periódicas e educativas que incentivam a disciplina, o senso de vida em sociedade, a cidadania e a orientação vocacional.

Em 19 anos de existência, o Bombeiros Mirins já treinou mais de 25 mil crianças. Atualmente, o trabalho é desenvolvido em 17 polos por todo o Maranhão, com um público de faixa etária entre 10 e 16 anos. A iniciativa é conduzida pelo coronel Izac Matos, que coordena o núcleo de programas sociais do Corpo de Bombeiros. “Damos noções de cidadania e condutas sociais, além disso, instruções de bombeiros e práticas que realizamos nos quartéis, claro, voltadas para esse público de crianças e adolescentes, porque não estamos formando militares, mas cidadãos”, explica o coronel Izac.

Mesmo ainda sendo adolescentes, Gilson, Layana e Lincoln já decidiram que profissões seguir no futuro. Gilson mora na Areinha e é um dos mais experientes no grupo que frequenta o Bombeiros Mirins, tendo entrado no projeto aos 11 anos. Ele quer servir ao Exército e cursar Direito. Layane quer desenvolver as habilidades que já aprendeu na área de saúde, dentro do projeto, e ser enfermeira. Já o pequeno Lincoln sonha em se tornar um bombeiro militar e salvar vidas.

Os bombeiros ensinam técnicas de salvamento, primeiros-socorros, ordens unidas, defesa civil, proteção ambiental, prevenção e combate a incêndios e prevenção a acidentes domésticos, temáticas que compõem a grade curricular do curso. Uma das experiências marcantes na vida de Gilson foi o socorro que prestou ao tio, que teve uma para cardíaca em casa. “Na minha vida, já apliquei os primeiros-socorros no meu tio, que teve uma parada cardíaca. Fiz os procedimentos ensinados e o socorri”, narrou o rapaz. Ele demonstrou o potencial de liderança já na abertura do evento. Foi ele que apresentou seu ‘pelotão’ ao comandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Célio Roberto de Araújo.

Além de, na prática, os participantes terem mais clareza de quais habilidades pretendem desenvolver para o campo profissional, o trabalho social dos bombeiros interfere diretamente no comportamento dos meninos e meninas. “Muda o comportamento e isso é um ganho. A criança idealiza o bombeiro como um herói. Daí a nossa responsabilidade em passar lições que vão servir para a vida toda. Essa aproximação que o bombeiro mirim exerce com a sociedade faz com que as crianças tenham esse fascínio pela corporação e que sejam multiplicadores dessa cultura que o bombeiro passa: da prevenção, de respeito à vida e ao próximo”, explicou o comandante-geral, coronel Célio Roberto.

Essa inspiração é comprovada pelo pequeno Lincoln, que, assim como cinco ex-bombeiros mirins já integrantes oficiais da corporação, pretende seguir a carreira de bombeiro militar. “Quero ser bombeiro, porque acho bacana apagar incêndio e salvar vidas”, disse o garoto, sem hesitar.

CARÁTER PREVENTIVO

Gilson, Layane e Lincoln moram em áreas de vulnerabilidade social, com altos índices de criminalidade, elencadas pelo Corpo de Bombeiros como zonas prioritárias para atuação. A ideia é promover redução da criminalidade a partir da formação e implementação de uma cultura de paz. “O próprio sistema de segurança tem nos motivado para que nos aproximemos da sociedade estimulando esses projetos sociais na base, principalmente em regiões mais carentes e vulneráveis. Estando próximos, isso faz com que a gente cumpra nosso papel social e que tenhamos cidadãos melhores amanhã”, disse o comandante-geral.

Para Gilson, o projeto de que participa há seis anos, tem potencial transformador para quem dispõe de poucas oportunidades de crescimento e pode ser um ponto de partida para o combate à marginalidade e às drogas nas comunidades. “O projeto forma cidadãos e evita que as crianças e os adolescentes vão para o mundo das drogas. Ajuda bastante porque tem muita disciplina e educação. A região onde eu moro é bastante perigosa, não é muito bem influenciada e eu poderia ter ido por maus caminhos”, testemunhou o rapaz.

Já Layane conta que tanto ela quanto o irmão, que se inscreveram no ano passado no Bombeiros Mirins, já notam a diferença no comportamento diante de seus grupos de amizade. Eles moram na Vila Passos. “No projeto, eles ensinam a gente a respeitar, a falar com as pessoas do modo certo, educado. Acho que é diferente, porque tem muitas pessoas que não são educadas como somos”, opina a futura enfermeira.

O sargento M. Ribeiro foi um dos precursores do Bombeiros Mirins no Maranhão e atua com o trabalho voluntário há quase vinte anos. O militar lidera um grupo de 35 alunos no bairro Coréia de Cima e, segundo ele, os resultados são gratificantes. A seleção dos alunos para cada turma leva em consideração uma avaliação socioeconômica e a freqüência à escola é obrigatória. “A evasão ao programa é mínima. Trabalho com 35 crianças, porque este é um grupo de elite, mas a média por grupo é de 80 alunos por área. O trabalho com eles ajuda dentro da escola, no reflexo dentro do comportamento escolar, nas notas deles, e na comunidade, como multiplicadores”, afirma o sargento.

Além de São Luís, municípios de Imperatriz, Caxias, Bacabal, Timon, Itapecuru, Barreirinhas, Paço do Lumiar, Igarapé do Meio e Monção recebem as atividades do projeto Bombeiros Mirins. As aulas são ministradas aos sábados.